terça-feira, 24 de abril de 2012

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa


Não sei como, mas creio que apenas Fernando pode [pôde] traduzir em palavras minha alma, meu ser; eu mesmo não consigo sintetizar em palavras os meus anseios e angustias, a poesia de Pessoa é de um valor introspectivo imensurável.
A cada vez que descubro algo a respeito de Fernando Pessoa, fico mais impressionado e curioso; a coisa mais "gritante" é o fato dos heteronimos, que na pessoa de Pessoa são em número extremamente grande, para mim, Fernando Pessoa é o maior poeta de língua portuguesa, quiçá de todas as línguas.


ps: este belo poema de Fernando Pessoa eu dedico ao meu grande amigo, Luiz Braga, que hoje completa mais um ano de vida, amigo, FELIZ ANIVERSÁRIO, tudo de bom para você!

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